Infectologista Clarissa Cerqueira falou sobre os sinais das doenças
A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) emitiu alertas, na última terça-feira (11), acerca da Doença de Chagas (DC) e da febre maculosa no Estado. Sobre a DC, a Diretoria de Vigilância Epidemiológica do Estado da Bahia (DIVEP) emitiu um alerta quanto ao aumento do risco de transmissão da doença. No período de 1° de janeiro a 6 de maio deste ano, oito casos como confirmados foram constatados no Sistema de Notificação de Agravos de Notificação (SINAN) da doença “aguda”. No mesmo período, um óbito foi registrado.
Já para a febre maculosa, o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) notificou sobre o crescimento de casos da febre maculosa. Segundo a pasta, apenas neste ano foram notificados 16 casos suspeitos. Destes, seis foram descartados, dois inconclusivos e oito permanecem na espera do resultado laboratorial.
Por conta deste quadro, o Portal M! ouviu a infectologista Clarissa Cerqueira, que atua no Hospital Cárdio Pulmonar, para dar mais detalhes sobre os sinais e sintomas de ambas as doenças.

Clarissa Cerqueira é infectologista
Doença de Chagas
Apesar do alerta, a pasta estadual de saúde informou que a Bahia não registra surto da doença. Entre os casos confirmados neste ano, a Sesab apontou que do total de 8 casos confirmados no Sistema de Notificação de Agravos de Notificação (SINAN), houve confirmação diagnóstica após investigação de 5 casos e 1 óbito.
Desse total, 4 casos foram do sexo masculino e 2 do feminino, sendo a faixa etária de ocorrência dos casos de 12 a 53 anos. No que se refere a distribuição de casos confirmados no território, o Núcleo Regional de Saúde (NRS) Centro Norte registrou 4 casos e 1 óbito. O outro caso confirmado de DCA aconteceu no NRS Centro Leste, procedente do município de Cansanção, com transmissão de transmissão vetorial.
De acordo com a infectologista, a doença de Chagas é transmitida pelo barbeiro e se caracteriza, principalmente, por ser uma doença crônica na maioria dos casos e que não tem cura. Segundo a médica, a doença é endêmica, ou seja, está sempre presente, principalmente na zona rural ou quando existem surtos.
“Existe o tratamento, mas que não é muito eficaz, o que faz a doença ser considerada negligenciada, por ser uma doença que acomete países subdesenvolvidos, uma população mais carente e não tem tanto incentivo das indústrias para o desenvolvimento de tratamento e medicações”, explicou.
Conforme a especialista, ao tentar se alimentar do sangue humano, o barbeiro defeca no local, e ao coçarmos a região, elas entram no local da picada do barbeiro. O problema é que as fezes do barbeiro contêm o parasita causador da doença.
“Além dessa forma de transmissão direta, durante a ingestão de açaí, caldo de cana, se esses alimentos foram triturados com o barbeiro dentro, porque aí você tem as fezes infectadas, que caem nesses alimentos e as pessoas ingerem, o que pode levar a transmissão da doença também”, disse.
Já os sintomas para a condição, são a febre, inclusive mais persistente, dor no corpo, náuseas, enjoo, vômito. “São sintomas inespecíficos, que chamam atenção para um quadro de febre persistente. Depois, ela passa sozinha e a doença pode evoluir para a forma mais crônica, e nessa fase, pode acometer ao coração, levando a um coração grande, que chamamos de cardiopatia chagásica, a um quadro de insuficiência cardíaca e algumas arritmias, assim como pode acometer o esôfago, levando a um quadro de megaesôfago ou o intestino grosso, levando a um quadro de mega colón chagásico”, aponta.
Por sua vez, o tratamento para a doença “não é muito eficaz”, segundo a infectologista. “Indicamos um medicamento em alguns casos, principalmente os agudos, em crônicos alguns, mas ainda assim não é muito eficaz, então acabamos tratando as consequências da doença”, observa.
Com o alerta emitido pela Sesab, a médica defendeu que se fale mais sobre a doença. “Devemos explicar sobre a doença, porque as medidas de proteção se baseiam em evitar o contato com o barbeiro. Então, quem mora em casa de taipa que tem frestas, por onde passa o bicho, tentar tapar esses buracos, e evitar se alimentar de açaí ou caldo de cana de origens desconhecidas, deve-se optar por locais com boa higiene na manipulação e preparo desses líquidos”, alertou.
Febre maculosa
Já no caso da febre maculosa, a pasta apontou que “não há surto de Febre Maculosa” no Estado, sobretudo, porque não existe qualquer caso confirmado, apenas em investigação. Segundo a pasta, em 2022 houveram três casos confirmados, quatro em 2021 e um em 2020. Ao todo, entre 2012 e 2023, a Bahia soma 13 casos da doença.
A doença, conforme a infectologista, é transmitida pela picada do carrapato e causada pela bactéria do gênero Rickettsia. Conforme a médica, a febre maculosa é uma doença febril aguda, e que apresenta semelhanças com a dengue, já que o paciente pode apresentar febre alta, dor de cabeça, enjoo, entre outros sintomas.
“O paciente, após a picada do carrapato, pode ou não perceber a presença de febre alta, dor de cabeça, dor no corpo, mal estar, enjoo, vômito, tudo que é muito semelhante à dengue. Só que depois desse início, tem um exantema, uma vermelhidão no corpo, que pode acometer a palma da mão, a planta dos pés”, explicou.
A condição também pode apresentar complicações. Segundo ela, as mais graves são as neurológicas. “As complicações mais graves são as neurológicas, em que o paciente pode ter meningite, um quadro de confusão mental, inclusive, chegar a entrar em coma. Ou seja, é uma doença que tem um potencial de gravidade”, apontou.
Por conta deste quadro, a especialista reforça que as pessoas, sobretudo as que vivem na zona rural de estados do Sul e Sudeste, onde a prevalência é maior, tenham atenção redobrada. “A proteção é estar sempre de calça, bota, quando for à zona rural, para evitar a picada do carrapato”, disse.
Com o alerta da Sesab, a médica apontou que se houver uma circulação da doença na Bahia, será necessário alterar a conduta médica para o manejo de pacientes em casos suspeitos.
“É algo que temos que ficar em alerta, porque se tiver uma circulação maior na Bahia, isso muda muito. O quadro clinico parece muito com o quadro de dengue, o que muda principalmente, é a história epidemiológica do paciente, ou seja, ele contar que esteve na zona rural, que foi picado por um carrapato. Se a gente perceber que está tendo febre maculosa na Bahia isso vai ter que mudar o raciocínio do médico, para iniciar o tratamento logo, já que a gravidade da doença é elevada, com um número elevado de óbitos”.